Hérnia inguino-escrotal


REVISÃO ANATÔMICA
               
Figura 1. Visão anatômica da região pélvica, antímero esquerdo, sistema reprodutor masculino. 

            Conforme Frandson (2011, p.324), o canal inguinal é a passagem da cavidade abdominal para o exterior do corpo, que se estende do anel inguinal profundo ao anel inguinal superficial. O anel inguinal profundo (interno) é um espaço real ou potencial entre a borda caudal do músculo oblíquo interno do abdome e face profunda da aponeurose (tendão plano) do músculo oblíquo externo do abdome. O anel inguinal superficial externo é apenas uma fenda na aponeurose do músculo oblíquo externo do abdome. Além do cordão espermático, o canal permite a passagem da artéria pudenda externa e de um nervo sensitivo que serve à região inguinal da parede abdominal.
            O canal inguinal normalmente é um espaço potencial, grande o bastante apenas para permitir a passagem do cordão (funículo) espermático e dos vasos e nervos inguinais. Se a capacidade do anel interno e do canal aumentar, uma alça de intestino pode passar através do canal para o escroto, ocasionando uma hérnia inguino-escrotal.

Figura 2. Relação do testículo com os revestimentos peritoneais. O cordão espermático, compreendendo o ducto deferente, vasos sanguíneos e nervos, passa através da parede abdominal do corpo pelo canal inguinal. No canal, o cordão espermático e o testículo são revestidos por extensões do peritônio. (Anatomia e fisiologia dos animais de fazenda, Frandson, R. D.- Guanabara Koogan, 2011)

EXAME FÍSICO ESPECÍFICO EXTERNO E INTERNO
            Como sabido à Semiologia é conhecida como "a arte do diagnóstico", logo, abrange todos os tipos de testes e exames. Iniciando pela anamnese, seguindo para exame físico e, se necessário, exames complementares. A dificuldade do diagnóstico da hérnia inguino-escrotal também se dá pela multiplicidade de enfermidades que condizem com os mesmos sinais clínicos. Portanto, iremos citar pontos de dois métodos semióticos, inspeção e palpação, para que desta forma possa conduzir para o diagnóstico. Não abandonando os demais métodos semióticos (auscultação, olfação, percussão) para o diagnóstico.

Anamnese (principais questionamentos):
·         Qual a idade do animal?
·         Quais os antecedentes do animal:
·         O pai, irmão do animal já apresentaram essa afecção?
·         O animal já possui produto?
·         Há quanto tempo o animal efetuou monta natural ou foi coleta de sêmen?
·         O animal fez exercício intenso há pouco tempo (horas)?

Na inspeção e palpação (externa) da região escrotal:
            Sendo ela melhor conduzida lateralmente nos equinos, devemos inspecionar e palpar:
·         Escroto: tamanho e simetria, temperatura, dor e inflamação.
·         Cordão Espermático: tamanho e simetria.
·         Testículos: tamanho, forma, posição, simetria (uni ou bilateral, total ou parcial), consistência, edema.
ü  Deve-se observar se o animal sente dor ao realizar os exames, evitando desta forma uma maior manipulação.
            A bolsa testicular é geralmente elástica, lisa, fina, com poucos ou nenhum pelo e relativamente pendulosa (exceto em baixa temperatura). Mas pode retrair-se em direção ao corpo durante a palpação (caso não exista alguma alteração ou impedimento), em virtude das contrações voluntárias dos músculos cremastéricos externos.
             De acordo com Feitosa et al.(2008) os anéis inguinais internos são mais comumente examinados em equinos, através da palpação por via retal, para terminar a localização dos testículos e estruturas presentes dentro do anel inguinal, em animais com suspeita de hérnia inguinal e/ou escrotal. Os anéis são palpados cranialmente e ventralmente à borda pélvica de ambos os lados. São estruturas em forma de fenda e não devem estar aderidas aos intestinos e/ou outras estruturas. A abertura do canal inguinal, em equinos, possui de 2 a 3 cm de diâmetro. A prevalência de hérnia inguinal adquirida em pacientes equinos, com cólica, pode chegar a 10%.

CONCEITUAÇÃO
            Hérnias escrotais ocorrem quando alterações presentes no anel inguinal permitem que o conteúdo presente no abdômen se projete no interior do processo vaginal adjacente ao cordão espermático. As hérnias inguinais ocorrem em ambos os sexos, sendo esta de maior incidência nos machos. Geralmente são unilaterais, sendo comum o estrangulamento do conteúdo abdominal. Apesar de ocorrer com frequência, às hérnias inguinais congênitas dos equinos que necessitam de intervenção cirúrgica, apresentam alta mortalidade em virtude das complicações sistêmicas, como a septicemia e a endotoxemia, que se desenvolvem rapidamente.
            O abdome agudo é uma das maiores causas de óbito em equinos, envolvendo desordens no trato gastrointestinal, reprodutor e urinário. Em relação ao aparelho reprodutor, uma das enfermidades comuns em machos (potros ou garanhões) são as hérnias inguino-escrotais, caracterizadas pelo deslocamento da porção final do jejuno ou íleo através do canal inguinal. Nas hérnias irredutíveis, a terapêutica é cirúrgica e o prognóstico reservado devido a lesões estrangulantes no intestino. Caso não se tenha um diagnóstico rápido.
            A hérnia é a protrusão de um órgão de sua cavidade natural para o subcutâneo, através de abertura natural ou adquirida. As hérnias inguinais são de grande importância na espécie equina devido à sua frequente ocorrência e alta taxa de mortalidade.

HÉRNIA INGUINO-ESCROTAL DO POTRO

            Nos casos de hérnias escrotais em potros frequentemente é congênita, desenvolvendo-se desde o nascimento até o quarto mês de vida, devido à amplitude do anel inguinal. Porém, devemos nos conscientizar que maioria destas hérnias desaparece espontaneamente. Porém existe certo percentual que pode persistir, complicando-se com encarceramento e o estrangulamento do segmento intestinal herniado.  Geralmente, apenas um dos lados da bolsa escrotal pode apresentar o problema, mostrando-se como aumento de volume. Sendo muito importante uma excelente anamnese, inspeção adequada e palpação do órgão.
            As hérnias inguino-escrotais estranguladas produzem o mesmo quadro sintomatológico das umbilicais estranguladas, sendo o tratamento basicamente o mesmo, a cirurgia.
            Por existirem fortes indícios de hereditariedade no aparecimento destas hérnias, aconselha-se a eliminação delas nos potros portadores, realizando-se concomitantemente a orquiectomia (retirada) do testículo correspondente ao lado herniado.

ATENÇÃO!
Nestes casos a castração de ambos os testículos em um só tempo cirúrgico, tem sido apontado (embora não exista comprovação cientifica) como fator de interferência no desenvolvimento corpóreo do animal, principalmente nas características externas (fenótipo) de macho. Podendo ser retirado o testículo restante em torno de 2-3 anos de idade. Enfatizando que o cirurgião saberá como proceder adequadamente de acordo com cada paciente, situação.

HÉRNIA INGUINO-ESCROTAL DO GARANHÃO

            Pode ocorrer por predisposição hereditária ou pelo “alargamento” do anel inguinal em razão de um aumento agudo da pressão intra-abdominal, principalmente durante a cobertura.
            Por vezes o aumento de volume da bolsa escrotal não é tão evidente, apenas uma pequena porção do intestino delgado pode ter se insinuado no anel inguinal interno (não sendo tão evidente) e produzindo o quadro de desconforto abdominal agudo, a nossa famosa cólica.

Figura 3. Hérnia inguino-escrotal em  garanhão.


 Alerta!
Muitos profissionais não atentam ao fato citado acima e muitos cavalos vão a óbito, pois estes animais são tratados de forma tradicionalista para sintomas de abdome agudo. O que nos faz trazer em mente o citado anteriormente avalição através dos métodos semióticos, especificamente palpação retal. Podendo ser auxiliado por um ultrasson.

            Nesses casos de hérnia o animal ira apresentar quadro de desconforto podendo ser agudo, com dor intensa e intratável (analgésicos não mascararão/aliviarão a dor) devido ao estrangulamento da alça. O quadro agudo é consequência do estrangulamento da alça e a interrupção do fluxo sanguíneo em grandes vasos do mesentério. A hérnias agudas geralmente são redutíveis imediatamente após a sua ocorrência, quando, com o animal tranquilizado, por palpação retal, podemos tracionada delicadamente  a alça para o interior do abdômen, ou então reduzi-la pela via escrotal realizando-se pressão de baixo para cima com as pontas dos dedos,


            Sempre que houver informações de que o garanhão manifestou sinais de dor abdominal após a cobertura, suspeite inicialmente, de que possa ter ocorrido a instalação de hérnia inguinal ou inguino-escrotal. Sendo um do possível tratamento de eleição é o cirúrgico. Sendo recomentada a remoção do testículo correspondente ao lado comprometido, em caso da eleição da cirurgia.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICA
GETTY, R. SISSON/GROSSMAN. ANATOMIA DOS ANIMAIS DOMÉSTICOS. Editora Interamericana. 5a ed. vol. 2. Rio de Janeiro, 1981.
FEITOSA, F. L. F. (Org.). SEMIOLOGIA VETERINÁRA: A arte do diagnóstico 2. ed. São Paulo: Rocca, 2008.
KÖNIG, H.E. & LIEBICH, H.G.  ANATOMIA DOS ANIMAIS DOMÉSTICOS. ÓRGÃOS E SISTEMAS. TEXTO E ATLAS COLORIDO. Vol. 2. Porto Alegre. Artmed. 2004.
RANDSON, R.D. WILKE, W.L. & FAILS, A.D. ANATOMIA E FISIOLOGIA DOS ANIMAIS DE FAZENDA. Editora Guanabara Koogan S. A. 6a ed. Rio de Janeiro, 2005.
THOMASSIAN, A. ENFERMIDADES DOS CAVALOS / por Armen Thomassian. - 4. ed. -  São Paulo: Livraria Varela, 2005.


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Autor Unknown

GEMEQ - Grupo de Estudos em Medicina Equina da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) - Sede Dois Irmãos .

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