Ozonioterapia




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Fonte: Ozonyozone

Introdução

O ozônio (O3) é uma molécula composta por três átomos de oxigênio, formada naturalmente na atmosfera (estratosfera) através de reações fotoquímicas entre moléculas de oxigênio e a ação de raios ultravioletas – que atuam como uma descarga elétrica para quebrar a ligação de O2.

3O2 + ENERGIA = 2O3

O O3 é uma molécula dinamicamente instável, presente naturalmente na forma gasosa. O gás é incolor, de odor acre muito característico, parcialmente solúvel em água e tem tempo de meia-vida curto, de 40min a 20ºC e de, aproximadamente, 140min a 0ºC (ELVIS & EKTA, 2011; MORETTE, 2011)
No ambiente, o ozônio tem como função principal proteger a Terra contra o excesso de raios ultravioletas (UV-A, UV-B e UV-C), absorvendo-os.
O ozônio começou a ser estudado em 1834 pelo químico alemão Christian Friedrich Schönbein, que percebeu um odor diferente ao liberar energia elétrica sobre a água. Este odor ele chamou de ozon, derivado do grego ozein, que significa ‘cheiro’. Schönbein descreveu como uma substância fortemente oxidante e de alto poder desinfetante (10 vezes mais potente que o cloro). Em 1867, Jacques-Louis Soret definiu que o ozônio era composto de oxigênio.
Pouco tempo depois, o alemão Werner Von Siemens descobriu como gerar ozônio a partir do oxigênio e do ar, através de descargas elétricas. Com isto, desenvolveu o primeiro gerador de ozônio capaz de eliminar microorganismos. Em 1889, passou a ser usado como desinfetante em Paris e, a partir de 1893, começou a ser utilizado em estações de tratamento de água (LAGE-MARQUES, 2008).
Durante a Primeira Guerra Mundial, o ozônio passou a ser utilizado de forma empírica para o tratamento de feridas infectadas, queimaduras e fístulas. Os efeitos antimicrobianos do gás estimularam novos estudos, dando início a suas aplicações clínicas em larga escala. Porém, após as Grandes Guerras, o ozônio passou a ser utilizado indiscriminadamente, sem que houvesse qualificação por parte dos profissionais, resultando na aplicação de doses elevadas e ocasionando muitas vezes o óbito do paciente por embolia gasosa. Estes acontecimentos resultaram na proibição do uso do gás para fins terapêuticos nos Estados Unidos, e sua utilização caiu em desuso. Porém, a partir de novos estudos foi possível determinar concentrações terapêuticas adequadas para tratamentos, o que contribuiu para o retorno da utilização do ozônio como forma de tratamento (VILARINDO ET AL, 2013). No Brasil, ainda não regulamentação para o uso do ozônio na medicina, sendo considerado terapêutico experimental (CREMESPE, 2006).

Ozonioterapia
A ozonioterapia é a técnica que utiliza ozônio como agente terapêutico.
Atualmente, para uso clínico, a forma mais usada pelos geradores médicos para produzir ozônio é através da liberação de uma descarga elétrica constante (efeito corona) sobre um tubo dielétrico contendo oxigênio. A eletricidade fornece energia para a quebra das duplas ligações das moléculas de O2, gerando átomos de oxigênios isolados. Esses átomos irão reagir com outras moléculas de O2, formando o O3. Pode-se utilizar O2 diretamente ou o ar comprimido, sendo que, neste último caso, deve-se realizar um pré-tratamento do ar. Utiliza-se uma mistura de ozônio-oxigênio que variam de 0,05 a 5% de ozônio e 95 a 99.95% de oxigênio, cuja concentração será determinada pelo médico responsável de acordo com as necessidades do paciente (VILARINDO ET AL, 2013). Por ser quimicamente instável, o O3 é preparado imediatamente antes do uso, pois seu tempo de meia-vida é inferior a uma hora. O ozônio pode ser adicionado à água, sangue, óleo, PRP, etc, ou utilizado puramente na forma de gás. 

http://cavaloseso.blogspot.com.br/2016/05/ozonioterapia-em-equinos.html
Fonte: Cavaloseso
Os métodos de administração do ozônio envolvem: via subcutânea, intramuscular, tópica, intracavitária, intramamária, intradiscal, intravaginal, intrauretral, insuflação retal, auto-hemoterapia, infusão venosa direta, entre outros. A auto-hemoterapia pode ainda ser subdividida em maior (M-O3 AHT) e menor (m-O3 AHT).
Na M-O3, faz-se a coleta de aproximadamente 225mL de volume sanguíneo do paciente, e adiciona-se ozônio a uma concentração de 40 a 80 μg/mL. Para que não haja reações químicas, não se recomenda o uso de bolsas de transfusão e, sim, frascos de vidro estéreis, com aprox. 3,8% de citrato de sódio (anticoagulante).  O sangue coletado é injetado novamente no paciente por via intravenosa (MORETTE, 2011; LAGE-MARQUES, 2008).
Na m-O3 AHT o sangue coletado do paciente é de menor volume (aprox. 5 a 10mL), ozonizado manualmente e depois retornado à circulação por via intravenosa, intramuscular ou subcutânea, sendo que apresenta resultados pouco convincentes (LAGE-MARQUES, 2008).
Uma das principais formas de administração do ozônio nos animais domésticos é por insuflação retal, devido à facilidade de aplicação que não exige materiais específicos nem contenção elaborada. O paciente não apresenta desconforto. A administração de ozônio por esta via é capaz de, principalmente, ativar o metabolismo das hemácias de forma sistêmica, entre outras ações. Além do efeito sistêmico, a hiperoxigenação é capaz de acelerar a cicatrização tecidual local, podendo ser indicado também em casos de afecções intestinais e retais, como colites e proctites (VILARINDO ET AL, 2013; LAGE-MARQUES, 2008). 
Outra forma de administração muito utilizada é a tópica. Esta via exige um sistema fechado (utilizando uma bolsa, bag, touca, etc, que seja ozônio-resistente) para que não haja vazão do gás e este atue diretamente na área lesionada, durante 20 a 30 minutos. A forma tópica é mais utilizada para o tratamento de lesões externas, como escaras de decúbito, feridas pós-operatórias, úlceras, habronema, etc (OLIVEIRA, 2007).
 
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Fonte: Cavaloseso

http://www.equinehealthcare.com/ozone/ozone_therapy.shtml
Fonte: Equine Health Care


A administração intraperitoneal de ozônio é utilizada na medicina humana como auxiliar de vídeo-cirurgia. O ozônio apresenta forte efeito microbiano, inviabilizando o crescimento de cepas bacterianas como as da Escherichia coli, Staphylococcus aureus e Pseudomonas aeruginosa, além de estimular a produção de antioxidantes e inibir a liberação de fatores envolvidos na patogenia do choque séptico.
O trato respiratório, especialmente o inferior, é muito sensível ao ozônio na forma de gás, apresentando reações tóxicas. Por isso, a administração do ozônio nesta forma por via intracavitária oral ou nasal é contraindicada, devido à possibilidade de inalação.
O O3 pode ser utilizado também no tratamento de água, sendo mais rápido, mais eficiente e menos poluente que o cloro (que pode formar organoclorados). Além disso, sob a forma de água ozonizada (devendo esta água ser pura), é utilizado para desinfecção de equipamentos, especialmente odontológicos.
A associação do ozônio com o soro fisiológico (NaCl 0,9%) é contraindicada, pois há formação do ácido hipocloroso (HOCL), que tem efeito tóxico, podendo causar inflamação local, como vasculites (LAGE-MARQUES, 2008). 

Mecanismos de Ação
Ação no metabolismo do oxigênio
No sangue, o ozônio gera um aumento na taxa de glicólise nos eritrócitos através do ciclo das pentoses, estimulando a produção de 2,3-difosfoglicerato (um fosfato orgânico encontrado na hemácia, que influencia a afinidade entre o O2 e a hemoglobina), o que leva a um aumento do oxigênio liberado para os tecidos. O O3 também promove a carboxilação oxidativa do piruvato, que ativará o ciclo de Krebs, estimulando a produção de ATP (ELVIS & EKTA, 2011; LAGE-MARQUES, 2008).

Ação Oxidante Imunomoduladora
O ozônio induz a liberação de espécies reativas do oxigênio (EROs) que, em concentrações controladas, regulam a liberação de mediadores inflamatórios e estimulam a produção de enzimas antioxidantes e protetores de membrana, como glutationa peroxidase, catalase e superóxido desmutase. As EROs muitas vezes constituem os radicais livres, que causam danos a moléculas importantes. Porém, alguns autores sugerem que a exposição a doses controladas de ozônio, levam a um pré-condicionamento oxidativo no fígado, prevenindo os danos causados por radicais livres. Ocorre ainda estímulo para produção de prostaciclina, uma prostaglandina de ação vasodilatadora.
Em humanos, a administração de ozônio a concentrações de 30 a 55 μg/cc gera um aumento na liberação de TNF e interleucina-2 (estimula a produção de linfócitos T, B e células NK) e aumento na produção de interferons (proteínas que interferem na replicação de patógenos, especialmente virais, e estimulam a defesa de outras células) (ELVIS & EKTA, 2011; LAGE-MARQUES, 2008).

Ação antimicrobiana
O ozônio causa oxidação dos fosfolipídeos e lipoproteínas dos envelopes bacterianos, alterando a permeabilidade da membrana e causando a lise celular. Promove a inativação viral através da peroxidação lipídica, interrompendo o contato vírus-célula, além de causar danos ao capsídeo. Foi comprovada inativação, por ozonioterapia, de vírus como adenovírus, herpesvírus, influenza e o vírus da Hepatite A (MURRAY ET AL, 2008). Contra fungos, o ozônio inibe o crescimento celular em alguns estágios de crescimento, sendo capaz de eliminar esporos (provavelmente produzindo defeitos na germinação) (ELVIS & EKTA, 2011; LAGE-MARQUES, 2008).

Ação tóxica
No trato respiratório, a exposição ao ozônio induz um decréscimo na capacidade vital dos tecidos, causando aumento na resistência específica e média do fluxo do ar, reduz a pressão transpulmonar máxima e aumenta a frequência respiratória. Pode causar lacrimejamento excessivo e irritação das vias aéreas e, em doses elevadas, o óbito. O tratamento em caso de intoxicação por inalação excessiva de ozônio é a inalação de oxigênio umedecido (ELVIS & EKTA, 2011; LAGE-MARQUES, 2008).

Aplicações Clínicas
A ozonioterapia é utilizada, essencialmente, como terapia auxiliar a tratamentos convencionais, potencializando as defesas do paciente e reduzindo o tempo de tratamento (VILARINDO ET AL, 2013).
Na literatura médica, há relatos de utilização eficiente da ozonioterapia (usada de forma associada ou isolada) em humanos em inúmeras enfermidades: doenças infecciosas, infecções resistentes a antimicrobianos (ex: osteomielite, peritonite, queimadura, escaras de decúbito, etc), infecções hepáticas, doenças autoimunes, doenças degenerativas, doenças ortopédicas (ex: fibromialgia), traumas extensos, sepses, pré-operatório e largamente utilizada na odontologia (ex:periodontites, infecções bucais, etc); sendo, de um modo geral, indicada para doenças de origem infecciosa, isquêmica e/ou inflamatória (MORETTE, 2011).
Lage-Marques (2008), destaca a possibilidade de extrapolação de dados da utilização de ozônio na odontologia humana para a odontologia veterinária. A grande maioria das alterações envolvendo cavidade oral é de origem infecciosa, sendo que alterações pulpares, periapicais e periodontais têm uma forte presença de microbiota anaeróbica, sendo um ozônio um bom meio de controle e eliminação destes microrganismos. A autora ressalta ainda a eficácia da administração de ozônio por meio de água ou óleo ozonizado, que permite maior penetração do ozônio em pequenos espaços (como canais radiculares) e reduz a quase zero o risco de contaminação do trato respiratório. O óleo ozonizado necessita de maior tempo de preparação, porém, seu tempo de ação pode chegar a 2 anos, enquanto o da água ozonizada é de apenas algumas horas. A administração de ozônio na odontologia potencializa tratamentos terapêuticos padrões, como a antibioticoterapia. A água ozonizada se mostrou muito eficaz para a desinfecção de equipamentos odontológicos, inibindo a formação de biofilme bacteriano.
Na medicina veterinária há relatos de uso intramamário em vacas leiteiras com mastite (tendo como ponto positivo que o ozônio não deixa resíduo no leite), endoftalmite em coelhos, feridas extensas, lesões fúngicas em pele de tartarugas, tratamento de TVT, erlichiose canina, entre outros.
Há relatos de utilização eficiente de ozônio em equinos para tratamento (auxiliar ou não) de laminite, artrite séptica, tenossinovite, dor lombar, linfossarcoma, endocardite, miocardite, alergias, cólica, linfagite, abscessos, melanoma, babesiose, EPM, herpesvírus, infecções renais, habronema, lesões tópicas, reperfusão de jejuno entre outros. Mesmo utilizando poucas aplicações em alguns tratamentos, a ozonioterapia tornará outros tratamentos mais efetivos e acelerará o reparo tecidual. O uso concomitante da técnica com anti-inflamatórios é contraindicado e normalmente não necessário
Em cavalos, uma reação comum ao excesso de ozônio é uma comichão no nariz, indicando que a administração está sendo realizada de forma muito rápida. Deve-se checar sempre a frequência dos batimentos cardíacos do cavalo, pois a hiperoxigenação tende a diminuir a FC que, em níveis muito baixos, pode levar a uma síncope ou mesmo coma. A hiperoxigenação também pode aumentar o peristaltismo intestinal, podendo levar a sinais breves (10 a 15 minutos) de dor abdominal (SHOEMAKER, 2010?).

Conclusão
Apesar da baixa disponibilidade de literatura sobre a utilização de ozônio terapêutico em animais domésticos, os estudos realizados têm demonstrado resultados satisfatórios utilizando a técnica tanto de maneira isolada quanto, principalmente, em associação a outros métodos terapêuticos convencionais. Seu baixo custo e facilidade de aplicação, potencializam a utilização na vida prática do médico veterinário, mesmo de campo. Mais estudos se fazem necessários para elucidar os mecanismos de ação do ozônio terapêutico e para estabelecer concentrações terapêuticas adequadas para cada espécie e situação do paciente.

Referências Bibliográficas
CREMESPE. Parecer n. 4166/06 de 21 de fevereiro de 2006. Sobre procedimentos burocrático e administrativos para a realização de tratamento com ozônio, ainda que não esteja regulamentado pelas instâncias com CFM e ANVISA. Relator: Conselheiro José Marques Filho.
ELVIS, A. M.; EKTA, J. S. Ozone Therapy: A clinical Review. Journal of Natural Science, Biology and Medicine, Mumbai, v. 2, n. 1, p. 66-70, 2011.
LAGE-MARQUES, M. Estudo da ozonioterapia como contribuição para a odontologia veterinária. 2008. 67 f. Dissertação (Mestrado em Clínica Cirúrgica Veterinária) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo. 2008.
MORETTE, D. A. Principais aplicações terapêuticas da ozonioterapia. 2011. 19 f. TCC (Graduação em Medicina Veterinária) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo. 2011.
MURRAY, B. K et al. Virion disruption by ozone-mediated reactive oxygen species. Journal of Virological Methods, v. 153, n. 1, p. 74-77, 2008.
OLIVEIRA, J. T. C. de. Revisão sistemática de literatura sobre o uso terapêutico de ozônio em feridas. 2007. 256 f. Dissertação (Mestrado em Saúde do Adulto) – Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.
SHOEMAKER, J. M. Ozone administration in horses. Disponível em: http://www.fullcircleequine.com/oz_admin_horses.pdf.
VILARINDO, M. C.; ANDREAZZI, M. A.; FERNANDES, V. S. Considerações sobre o uso da ozonioterapia na clínica veterinária. In: Encontro Internacional de Produção Científica Cesumar, 8, 2013, Maringá/PR. Anais... Maringá: Editora CESUMAR Maringá, 2013.
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Autor Unknown

GEMEQ - Grupo de Estudos em Medicina Equina da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) - Sede Dois Irmãos .

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2 comentários :

  1. Quero 1 aparelhok de ozonio que FAÇA insufinsuflkaca o. Mas para seres huma nos mesmo. Caso feridas. Rejuvenescime nto!

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