INTRODUÇÃO
Na
medicina equina, os problemas locomotores estão na origem da maioria das
consultas veterinárias, provocando uma enorme preocupação para os proprietários
e equitadores e exigindo um grande conhecimento por parte do veterinário. Assim,
não são demais os estudos realizados nesta área, que permitem auxiliar os
médicos veterinários sempre que se deparam com este tipo de problema (HORTA,
2012).
A claudicação é simplesmente um sinal clínico,
caracterizada pela anormalidade do andamento. A definição é simples, mas seu
reconhecimento, localização, caracterização e tratamento são muito complexos
(RIET-CORREA et al., 2007).
A
utilização de bloqueios anestésicos como meio de diagnóstico de claudicação em
equinos é bastante aceita na prática veterinária, sendo benéfica nos casos em
que, mesmo após uma anamnese eficiente e
um acurado exame físico, a origem e a região específica desta claudicação ainda não tenham sido identificadas
(STASHAK, 1994).
Anestesia
local diagnostica através de bloqueio anestésico perineural (infiltração
perineural de nervos sensitivos nos membros), é utilizada para localizar o
local da dor, pois uma vez que a lesão dolorosa seja dessensibilizada,
provavelmente a claudicação desaparecerá ou diminuirá de intensidade e assim
pode-se continuar com os procedimentos de exame físico e auxiliares como
radiografia e ultra-sonografia, finalizando o diagnóstico (FEITOSA, 2008). Este método bloqueia a
transmissão da dor do local da injúria até o cérebro, reduzindo ou anulando a
manifestação de claudicação. Consiste na aplicação de pequenos volumes
anestésicos no trajeto de nervos dessensibilizando regiões desejadas. Preparação e risco são menores que os bloqueios
intrarticulares.
O
bloqueio anestésico perineural deve ter início na porção distal do membro, com
progressão proximal até determinar a região sede da dor. Esse sentido
distoproximal é realizado porque uma anestesia perineural em uma região
proximal do membro deve mascarar o efeito de injeções distais, pois todas as
estruturas distais ao local da(s) primeira(s) injeção(ões) estará(ão) já
dessensibilizadas. Outra razão também é que estatisticamente a maioria das
lesões ocorre nas porções distais do membro e, caso o diagnóstico do local da
dor seja realizado já nos primeiros bloqueios, haverá considerável ganho de
tempo no exame. Exceções a esses procedimentos ocorrem nas anestesias
intra-articulares ou infiltrações locais, pois estas dessensibilizam apenas
alguns locais específicos. Os bloqueios referentes às regiões distais do membro
são semelhantes nos membros anteriores e posteriores, apenas há maior distinção
no bloqueio da região proximal e nas anestesias intra-articulares (FEITOSA,
2008).
A
melhor escolha anestésica para a realização dos bloqueios é a mepivacaína, pois
tem efeito duradouro de 120 a 180 minutos e é menos irritante aos tecidos. No
Brasil, a lidocaína (Figura 01) nas concentrações de l a 2%, com
aproximadamente 60 e 120 minutos de duração, respectivamente, é o anestésico
mais utilizado. O início da ação ocorre geralmente em 5 minutos, embora a
anestesia completa necessite de 10 a 15 minutos. Outro agente anestésico
utilizado é a bupivacaína, que é um potente anestésico local, com pico de ação
de aproximadamente 10 minutos e efeito analgésico com duração de 3 a 8 horas.
Este último agente é mais utilizado no pós-operatório de cirurgias ortopédicas
em função de seu efeito prolongado e por não interferir na função motora. A
utilização de adrenalina pode prolongar a ação anestésica, porém deve haver
cautela na utilização de anestésicos locais associados a vasoconstritores em
extremidades dos membros, em razão do risco de isquemia local e necrose tissular
(FEITOSA, 2008).
Figura 01 - Lidocaína, anestésico mais utilizado para se fazer bloqueios anestésicos. |
O
procedimento deve ser iniciado após a realização de tricotomia e anti-sepsia
com soro, clorexidine e álcool iodado, associando-se a utilização de luvas
estéreis, principalmente nas anestesias intra-articulares, para evitar o risco
de uma artrite iatrogênica. Deve-se utilizar uma agulha adequada de acordo com
o local a ser anestesiado. A seringa deve ser de plástico e não estar
previamente acoplada à agulha, pois é usual inserir-se a agulha e soltá-la por
causa da movimentação do animal. Os acoplamentos tipo rosca, em seringas, devem
ser evitados, porque impedem a separação rápida entre seringa e agulha, caso
haja movimentação do animal (FEITOSA, 2008).
O
equino deve ser adequadamente contido de modo a preservar o examinador de
qualquer reação do animal. O resultado positivo do teste deve ser avaliado,
pressionando-se um objeto rombo (Figura ) à pele do membro do animal até que
seja evidente que a dessensibilização foi obtida. É importante também realizar
esse teste com o examinador posicionado no lado contralateral ao membro
bloqueado para que o cavalo não movimente o membro só pela aproximação do
examinador (FEITOSA, 2008).
Razões
para não se conseguir um resultado positivo na anestesia:
• Localização errônea do nervo.
• Volume inadequado de anestésico.
• Fibras nervosas aberrantes.
• Tecido fibroso.
• Lesão dolorosa não associada com a
região injetada.
Complicações
da anestesia local:
• Inflamação/infecção tecidual.
• Quebra de agulhas.
• Necrose da pele, quando se utilizam soluções
anestésicas com adrenalina (FEITOSA, 2008).
Lembrando
que é muito importante conhecer a anatomia do Sistema Locomotor do equino para
se ter uma melhor noção de como utilizar os bloqueios.
BLOQUEIOS
PERINEURAIS
BLOQUEIOS DO MEMBRO
TORÁCICO
1- BLOQUEIO DIGITAL PALMAR
2- BLOQUEIO EM ANEL DA QUARTELA
3- BLOQUEIO SESAMÓIDE ABAXIAL
4-BLOQUEIO DOS QUATROS PONTOS
BAIXOS
5- BLOQUEIO DOS QUATRO PONTOS
ALTOS
6- BLOQUEIO DA ORIGEM DO
LIGAMENTO SUSPENSOR
7- BLOQUEIO DOS NERVOS MEDIANO,
ULNAR E MUSCULO CUTÂNEO
1 -
Bloqueio Nervo Digital palmar
Inserir
a agulha diretamente sobre o aspecto palmar do feixe neurovascular palpável
cerca de 1 cm acima da cartilagem ungueal. Injetar um volume de 3 a 5 ml
utilizando agulha 0,45x13. Fazer bilateralmente, esperar de 5 a 10 min e efetuar
o teste de sensibilidade (MOYER, 2007).
2 - Bloqueio em Anel da Quartela
Alguns
médicos realizam o bloqueio em anel da quartela como o próximo técnica
analgésica após a falta de resposta a um bloqueio do nervo digital palmar para
anestesiar os ramos dorsais dos nervos digitais palmares.
Para
executar este bloqueio deve-se inserir a agulha no local do bloqueio do nervo
digital palmar previamente realizada e dirigi-la dorsalmente, perpendicular ao
longo eixo do metacarpo para depositar a solução anestésica local
subcutaneamente ao longo dos lados e dorso do metacarpo (MOYER, 2007).
Agulha
utilizada é a 0,8x25
3 - Bloqueio Sesamóide Abaxial
Trata-se
de um bloqueio do nervo digital palmar ou plantar medial e lateral, localizado
nas superfícies abaxiais ventrais (basilar) medial e lateral da borda proximal
dos sesamóides proximais, acompanhado por artéria e veia.
A anestesia nesse nervo dessensibiliza grande
área do membro distal; porém, claudicações resultantes de lesões na articulação
do boleto podem inadvertidamente melhorar com esse bloqueio. Veias, artérias e
nervos são palpados ao longo da superfície abaxial dos ossos sesamóides
proximais.
A
anestesia é realizada com uma agulha 25 x 15 inserida nas superfícies abaxiais
ventrais medial e lateral e 3mL de anestésico são injetados em cada face do
membro (FEITOSA, 2008).
4 - Bloqueio dos Quatro Pontos Baixos
Os
bloqueios dos nervos palmares medial e lateral, localizados entre o tendão
flexor digital profundo e o ligamento suspensor do boleto e dos nervos
metacarpais medial e lateral, localizado entre o ligamento suspensor do boleto
e o II e o IV ossos metacarpais anestesiam todas as estruturas distais à
articulação do boleto, incluindo esta.
Uma
agulha 30 x 8 deve ser inserida entre o ligamento suspensor do boleto e o tendão
flexor digital profundo a 1cm proximal ao término do II e do IV metacarpais,
respectivamente. 3 a 5ml são administrados no local. A mesma quantia deve ser
injetada para anestesiar os nervos metacarpais palmares logo após o término de
cada um dos metacarpais acessórios (II e IV) (FEITOSA, 2008).
Fazer
bilateralmente, esperar de 5 a 10min e fazer o teste de sensibilidade. CUIDADO
para não chegar na cápsula articular. Fazer o bloqueio o mais próximo do boleto
possível.
5 - Bloqueio dos Quatro Pontos
Altos
A
analgesia regional do metacarpo é obtida com o bloqueio dos nervos metacarpais
palmar e palmar proximal. Essa anestesia dessensibiliza os nervos palmar e
metacarpal palmar, os quais inervam as estruturas profundas da região do
metacarpo. Os bloqueios são efetuados acima do ramo palmar comunicante dos
nervos palmares e abaixo do carpo.
Os
nervos se localizam adjacentes às superfícies dorsolateral c dorsomedial do
tendão flexor digital profundo, porém estão sob uma espessa faseia subcarpal. A
injeção pode ser feita nas faces lateral e medial ou apenas na face medial com
agulha 40 x 8, depositando 5mL por local. Os nervos metacarpais palmares correm
paralela e axialmente ao segundo e ao quarto ossos metacarpais. A agulha é
inserida imediatamente axial ao osso metacarpal acessório e então é direcionada
no sentido dorso-axial entre o osso e o ligamento suspensório. A solução de 5mL
é injetada com agulha 40 x 8 adjacente ao terceiro metacarpal (FEITOSA, 2008).
6 - Bloqueio do Nervo Palmar
Lateral
O
nervo palmar lateral origina proximal do carpo e é formado pelo ramo palmar
lateral do nervo mediano e o ramo palmar do nervo ulnar (MOYER, 2007).
Injetar
o medicamento na região côncava do Acessório do Carpo, na origem do ligamento
suspensor do boleto, num volume de 3 a 5ml com agulha 0,8x25.
7 -
Bloqueio dos Nervos Mediano, Ulnar e Cutâneo do Antebraço
Estes
bloqueios não são muito utilizados na rotina diagnostica de exame do sistema
locomotor, apenas o são quando há suspeita de lesões originárias distais ou
proximais ao carpo. É geralmente preferível realizar-se uma anestesia intra-articular
carpal, pois neste local a frequência de lesões é bem maior (FEITOSA, 2008).
Mediano:
caudomedial do rádio na altura da inserção do M. Peitoral superficial posterior
2 a 2,5 cm de profundidade (Figura 02).
Ulnar: 10 cm proximal ao carpo acessório, no sulco
entre o m ulnar lateral e o flexor ulnar do carpo(Figura 03).
Cutâneo
do antebraço: imediatamente acima da articulação do cotovelo(Figura 04).
Injetar
10 ml de anestésico com agulha 0,8x25 (MOYER, 2007).
Figura 02. Bloqueio do Nervo Mediano |
Figura 03. Bloqueio do Nervo Ulnar |
Figura 04. Bloqueio do Nervo Cutâneo do Antebraço |
BLOQUEIOS
DO MEMBRO PÉLVICO
1- BLOQUEIO
DIGITAL PALMAR
2- BLOQUEIO EM
ANEL DA QUARTELA
3- BLOQUEIO SESAMÓIDE ABAXIAL
4-BLOQUEIO DOS
SEIS PONTOS BAIXOS
5- BLOQUEIO DOS
SEIS PONTOS ALTOS
6- BLOQUEIO DOS
NERVOS TIBIAL E FIBULAR
6 - Bloqueio dos Nervos Tibial
e Fibular
Estes
dois nervos geralmente são anestesiados ao mesmo tempo porque eles são
responsá- veis pela maioria das inervações na região abaixo do tarso. O nervo
fibular se origina do ciático e é responsável pela função extensora do membro
posterior. O nervo tibial (Figura 05) também se origina do ciático e é
responsável pela inervação da face plantar do tarso, incluindo o calcâneo.
Os
nervos fibulares superficial e profundo (Figura 06) são anestesiados no mesmo
local, porém em profundidades diferentes. O local para a injeção é sobre a face
lateral do membro, cerca de 10cm acimado jarrete, no sulco entre os músculos
extensores digitais longo e lateral. O ramo superficial é anestesiado primeiro,
depositando-se no subcutâneo 15mL de solução anestésica. Essa injeção também
facilita a inserção de uma agulha maior para a anestesia do ramo profundo, que
fica próximo à tíbia, na qual se deve introduzir 15mL do anestésico. O nervo
tibial é geralmente bloqueado próximo aos nervos fibulares, injetando-se
inicialmente 2mL de anestésico no subcutâneo e posteriormente 20mL do
anestésico na face medial do membro, 10cm proximal ao ápice do jarrete,
imediatamente caudal ao tendão flexor digital profundo (FEITOSA, 2008).
Figura 05. Bloqueio do Nervo Tibial
|
Figura 06. Bloqueio dos Nervos Fibulares Superficial e Profundo |
CONCLUSÃO
É de
suma importância ressaltar a importância do equino para diversas atividades e
trabalhos, porém com esforços excessivos, por influência genética,
condicionamento não adequado, entre outros, os animais ficam sujeitos a quadros
de diferentes tipos de claudicação.
Os
Bloqueios Perineurais fazem a diferença para diagnosticar casos de claudicação,
facilitando a utilização de exames complementares como ultrassonnografia e raio
X. Por exigirem o pleno conhecimento da
anatomia musculoesquelética e a administração adequada de fármacos, estes
bloqueios só podem ser feitos por um Médico Veterinário capacitado para não
haver complicações além da própria afecção locomotora apresentada pelo animal.
A
sequência lógica de bloqueio perineural favorece o médico veterinário a não
confundir o diagnóstico e comprometer o tratamento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
RIET-CORREA,
Franklin et. al. Doenças de
Ruminantes e Equídeos. Segunda edição. v.2. 2002. p.530.
FEITOSA, F. L. F. Semiologia Veterinária: A Arte do
Diagnóstico. Roca-Brasil, 2008. p.590-594.
MOYER,
William; SCHUMACHER, Jim; SCHUMACHER, John. A Guide to Equine: Joint Injection and Regional Anesthesia. 2007.
p.73-100.
COSTA, M. H. C. G. Incidência de Lesões Locomotoras no Cavalo,
Diagnosticadas por Raio-X. Lisboa: ULHT, 2012. p.5. Dissertação, Grau de Mestre
em Medicina Veterinária, Curso de Mestrado Integrado, Universidade Lusófona de
Humanidades e Tecnologias.
STASHAK, Ted S. Claudicação em Equinos: Segundo Adams.
Quinta Edição. Roca, 1994.
Preciso fazer o broqueio das 4 patas do meu animal, nos dois joelhos e nas duas mãos da frente.
ResponderExcluirQual a quantidade correta de anestésico.
Em quanto tempo dura o efeito do anestesico, para fazer o efeito, ate o a duração
é um CAVALO!