Entender
como os cavalos percebem o mundo através dos sentidos pode ser essencial para
ajudar no manejo correto da espécie. A importância da visão para os equinos
pode ser evidenciada pelo tamanho dos seus olhos, que estão entre os maiores
dos mamíferos terrestres. Eles estão situados no alto da cabeça permitindo que
os cavalos fiquem atentos ao ambiente enquanto se alimentam de cabeça baixa.
Além disso, por estarem nas laterais do crânio, conferem aos equinos um campo
de visão de quase 360º, sendo que entre 65º e 80º à frente corresponde a visão
binocular. No campo de visão há dois pontos cegos: na região frontal entre os
olhos, bem à frente do seu focinho, e na extremidade caudal do seu corpo. Além
do mais, sua pupila horizontal e a extensão nasal da retina facilita sua visão
periférica que é de grande importância para o cavalo em pé com a cabeça
arqueada.
Há
evidências de que os cavalos possuem pouca capacidade de acomodação do
cristalino. Estudos demonstraram que equinos são emétropes com tendência a
hipermetropia, de forma análoga aos animais selvagens que são ligeiramente
hipermetropes para melhor detecção predadores, mas quando enjaulados ou
domesticados tendem a diminuir sua capacidade de acomodação, podendo ficarem
emértropes. Isso leva a algumas características comportamentais, como quando um
cavalo observa objetos mais próximos ele arqueia e inclina a cabeça para usar o
campo visual binocular, pois a estria visual é estreita e baixa na retina. O
olho é rotacionado para baixo para orientar a estria e visualizar objetos
baixos. Para observar objetos distantes e visualizar o horizonte ele levanta a
cabeça e aponta o nariz para frente.
A retina
dos equinos está adaptada a percepção de movimento, pois apresenta um número
significativo de grandes células ganglionares. Dorsal ao nervo óptico há uma
linha com alta densidade de células ganglionares, sendo a maior densidade na
região temporal dessa estria que é a região da visão binocular podendo chegar a
6100 células / mm2.
Cones e
bastonetes (células fotorreceptoras) estão presentes na sua retina, mas os
bastonetes superam os cones em número indicando uma boa visão noturna. Isso
implica na dupla funcionalidade na percepção de luz e na visão em cores.
Cavalos, assim como outras espécies, são naturalmente mais ativos ao amanhecer
e ao anoitecer e, portanto, sua visão parece melhor do que a nossa a meia-luz.
De fato, o tamanho dos seus olhos sugere que eles estão adaptados para ver com
pouca luz.
Além da alta densidade bastonetes, que são
fotorreceptores responsáveis pela visão em ambientes pouco iluminados, a retina
conta com o tapete lucidum (parte que reflete em tons verdes geralmente quando
se ilumina os olhos desses animais), uma camada colágena na parte de traz, que
dá aos fótons uma segunda chance de serem absorvidos pelos fotorreceptores. A
desvantagem deste arranjo é que a imagem fica comprometida, pois vários
receptores podem ser estimulados pela luz recebida, distorcendo a imagem e
reduzindo a acuidade. Este efeito pode ser comparado ao pixelização de uma
imagem digital de baixa resolução. Todavia, visão desta espécie parece não ter
desenvolvida para lidar com as mudanças bruscas de luminosidade, por exemplo,
indo do campo com sol claro ao ar-livre para uma baia escura, isso explica o
porquê de alguns cavalos relutarem em entrar em lugares escuros, ou vacilar
passando por áreas de grande diferenciação luz.
Foi sugerido que, como todos os mamíferos, com
a exceção de primatas que alguns são tricromatas, os cavalos são dicromatas e
que se esforçam para discriminar entre o verde e o cinza de brilho semelhante.
Pesquisas mostraram que os equinos enxergam cores durante o dia, e há vários
estudos que comprovam os seus achados. Em outros estudos ficou evidente que as
éguas necessitam usar outros sentidos, além da visão, para diferenciar seus
potros quando lhe são apresentados dois da mesma cor, isso denota a importância
da visão em cores nessa espécie. Smith e Goldman mostraram em seu experimento
que os cavalos responderam ao azul, verde, vermelho ou amarelo contra o cinza,
demonstrando não haver nenhum ponto neutro na discriminação das cores em
relação ao cinza.Entretanto, pesquisas mais recente mostraram que a partir da
análise do conteúdo de opsina (pigmento fotosenslivel dos cones) existente nos
cones, considerando que eles podem captar comprimentos de onda diferente de
acordo com o tipo do fotopigmento, há dois picos na sensibilidade espectral dos
cones de equinos em 428 nm e 539 nm, indicando duas tonalidades: azul e
amarelo.
A visão
dicromática tem melhor qualidade em baixas luminosidades em relação à
tricromática, pois ela gera uma forte relação sinal-ruído e permite uma melhor
discriminação de cores. Foi sugerido que alguns cavalos podem discriminar cores
com uma intensidade de luz semelhante à intensidade de uma noite enluarada
(0,02 cd/m²), semelhante ao limite em humanos. No entanto, o olho do cavalo
parece não estar adaptado para uma visão noturna em cor. Em vez disso,
provavelmente prevalece uma visão acromática, ligada aos bastonetes, em baixa
luminosidade, onde os olhos e pupilas grandes são excepcionalmente bons para a
captura de luz e onde somatórios de sinais permite uma maior sensibilidade, sem
muita perda de resolução espacial, essa forma de visão é essencial para
detecção de possíveis predadores.
Acuidade
visual é aptidão de distinguir detalhadamente objetos no campo de visão, é
definida pela dimensão mínima das formas espaciais dos estímulos visuais
(limite da discriminação do campo visual) e depende das características ópticas
do olho, como a habilidade de gerar uma imagem focalizada com precisão, da
capacidade da retina em captar e processar os estímulos visuais, dando origem a
sinais neurais, e da representação desses sinais pelas vias visuais superiores.
Uma forma de expressar acuidade visual do cavalo é comparando com a visão
humana normal, tal como 20/33. Isso indica que um cavalo só pode diferenciar a
20 metros, ou 20 passos, o que um ser humano pode em 33 metros, ou passos, e
este se compara favoravelmente com o cão (20/50) e do gato (20/100). O
conhecimento sobre a acuidade visual em animais é útil para ter noção do grau
de comprometimento das vias visuais, quando houver alguma patogenia, na
investigação da eficiência de um tratamento e para ter informação sobre o
estado da visão do seu animal.
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